sexta-feira, 28 de dezembro de 2012

“Eu não ganho nada escrevendo pra você. Se alguém me pagasse um centavo por cada linha que contém seus traços, acredite, eu estaria milionária. O problema é que eu não ganho nada e, ainda assim, cismo em escrever - pra você, por você, com você. Palavras não vão te trazer de volta, eu sei. Não importa quantos parágrafos eu digite ou quantas estrofes eu rabisque no papel, nada nunca vai ter o tamanho e a intensidade do que eu quero te dizer. Nenhuma frase tem tanta ênfase na dor que eu quero expressar. Veja só, escrever não me deixa menos infeliz ou com mais vontade de viver. Escrever não te coloca novamente do meu lado ou ameniza a saudade que teima em arder. Mas, de certa forma, é escrevendo que eu encontro um pouco de conforto em dias tão vazios longe de ti. Talvez não seja as pontas dos meus dedos que te redigem, talvez seja você quem transforma as pontas dos meus dedos. Analise com atenção as palavras que cospem da minha boca e as que saltam no papel: todas elas contém um pouco de você, do que éramos, do que tínhamos, do que fomos, de nós dois. Não importa se é sobre os seus olhos castanho-mel, sobre o seu cabelo preto bagunçado ou sobre os seus lábios finos. Todos os meus textos disfarçados em versos, todas as minhas poesias camufladas em texto e todos os meus poemas com alma de frase são sobre você. Eu juro que tento, de verdade, escrever sobre qualquer outra coisa ou agarrar qualquer pensamento avulso que não envolva o teu cheiro, o teu caminhar e a tua gargalhada, mas é impossível. Se falo sobre o céu, diretamente também falo sobre como era bom passar as tardes de quinta-feira deitada na grama admirando os formatos das nuvens com você. Se rio de uma piada, automaticamente penso em como eu gostaria de contar ela pra você e ver o seu sorriso de 32 dentes esbranquiçados se aflorar. Percebe o tamanho da ironia? Eu não quero escrever, pensar ou falar de você, mas de certa forma você me escreve, me imagina e me forma. Você me desenha, me adivinha, me tem. Às vezes as palavras fluem com o sibilo do coração. Eu penso em te telefonar toda noite, dizer como foi meu dia e perguntar como foi o seu, como se nada tivesse acontecido, e ao invés disso escrevo. Escrevo porque sei que não aguentaria algo cara a cara, tipo, olho no olho. Escrevo mesmo sabendo que as probabilidades de você ler sejam mínimas. Escrevo porque pede o coração e insiste a alma. Eu te escrevo, te imagino e te formo. Eu te desenho e te adivinho, só não te tenho. Como já disse, não recebo por te compor, mas me dá uma força danada e preenche o coração de coisa boa. E preenche o coração de amor. Amor quietinho, que não exige palco e nem platéia. Amor simples. Amor que não cabe no verbo amar.”

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