domingo, 7 de abril de 2013

Olhe, não fique assim não, vai passar. Eu sei que dói, é horrível. Eu sei que parece que tu não vai aguentar, mas aguenta. Sei que parece que vai explodir, mas não explode. Sei que dá vontade de abrir um zíper nas costas e sair do corpo porque dentro da gente, nesse momento, não é um bom lugar para se estar. Dor é assim mesmo: arde, depois passa. Aliás, a vida é assim: arde, depois passa. A gente acha que não vai aguentar, mas aguenta as dores da vida. Pense assim: agora está insuportável, agora tu queria abrir o zíper, sair do corpo, encarnar numa samambaia, virar um paralelepípedo ou qualquer coisa inanimada, anestesiada, silenciosa. Mas agora já passou, agora já são dez segundos depois da frase passada. Tua dor já é dez segundos menor do que há duas linhas atrás. Tu acha que não porque esperar a dor passar é como olhar um transatlântico no horizonte estando na praia.Ele parece parado, mas aí tu desvia o olho, toma um picolé, lê uma revista, dá um pulo no mar e quando vai ver o barco já está lá longe. A tua dor agora, essa fogueira na tua barriga, essa sensação de que pegaram tua traqueia e teu estômago e torceram como uma toalha molhada, isso tudo - é difícil de acreditar, eu sei - vai virar só uma memória, um pequeno ponto negro diluído num imenso mar de memórias. Levante-se daí, vá tomar um picolé, ler uma revista, dar um pulo no mar. Quando tu for ver, passou. Agora não dá mesmo para ser feliz. É impossível. Mas quem disse que a gente deve ser feliz sempre? Isso é bobagem. Como cantou Vinícius: “É melhor viver do que ser feliz”. Porque para viver de verdade a gente tem que quebrar a cara. Tem que tentar e não conseguir. Achar que vai dar e ver que não deu. Querer muito e não alcançar. Ter e perder. Tem que ter coragem de olhar no fundo dos olhos de alguém que a gente ama e dizer uma coisa terrível, mas que tem que ser dita. Tem que ter coragem de olhar no fundo dos olhos de alguém que a gente ama e ouvir uma coisa terrível, que tem que ser ouvida. A vida é incontornável. A gente perde, leva porrada, é passado para trás, cai. Dói, eu sei como dói. Mas passa. Está vendo a felicidade ali na frente? Não, tu não está vendo, porque tem uma montanha de dor na frente. Continue andando. Tu vai subir, vai sentir frio lá em cima, cansaço. Vai querer desistir, mas não vai desistir, porque tu é forte e porque depois do topo a montanha começa a diminuir e o único jeito de deixá-la para trás é continuar andando. Tu vai ser feliz. Está vendo essa dor que agora samba no teu peito de salto agulha? Tu ainda vai olhá-la no fundo dos olhos e rir da cara dela. Juro que estou falando a verdade. Eu não minto. Vai passar.

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