Não sei
se precisava ser pra sempre. Desde pequena eu acreditava que as coisas deveriam
ser perfeitas. Acho que fui iludida demais a esse ponto. Acho que os mais
velhos quiseram me proteger do que se chama sofrimento. Não me contaram a
verdade e hoje eu tive que aprender tudo isso sozinha. Não era pra ser assim, eu
necessitava da verdade, apenas da verdade, por mais dolorosa que fosse, mas
não, preferiram camuflar o que é a vida e os perigos que ela trás. Mas não, nem
tanto da vida, o que mais esconderam de mim foi sobre aquele tal sentimento que
eu pensava ser perfeito, “o amor”. Eu pensei que ele fosse tão bom, mas que
nada, já chorei tantas e tantas vezes por causa dele ou por causa das pessoas
que nunca souberam o verdadeiro significado dele. O que eu descobri sobre ele é
quando mais ele tiver distante de mim, melhor. Posso até ser radical dizendo
isso, mas já derramei lágrimas demais, já tive muita insônia, já me humilhei
demais e não quero que isso se repita. Eu cresci com os filmes de princesas que
no final o príncipe iria salva-lá e viver com ele até que a morte os separasse.
Eu cresci acreditando em contos de fadas e no amor, e hoje em dia nem me
reconheço. Eu me machuquei com os príncipes que apareceram. Eu cansei. Eu me doei
me machuquei pelos outros. Fui tudo o que queriam que fosse sem saber que o
importante era ser eu mesma. Eu cresci e levei muitos tombos. Cresci me
tornando forte e fria. Tornei-me daquele tipo de pessoa que quando perguntam
como vai o coração torce pra poder responder “livre”. Eu cresci com aquela dor
que sempre perseguia o meu coração, por mais que eu quisesse dizer que eu não
sentia mais nada, ou não sofria por ninguém, sempre vinha aquela lembrança ou
algo pra me mostrar que o meu coração não estava tão bem assim. Meus joelhos
passaram a maior parte do tempo ralados das quedas que tive, meu rosto quase
sempre sem expressão, meus olhos, quase sempre lacrimejando ou com uma
aparência de tristeza que ninguém nunca notou. Meu coração, sempre em pedaços,
tentado se recompor a cada decepção, a cada vez que alguém vinha e o pisoteava
com muita força. A cada dia que passava, eram noites e noites sem dormir. Na
manhã seguinte, era só levantar e se viam olheiras e tristezas. Eu me via
sozinha! Eu me via perdendo meu orgulho, como se um ser idiota qualquer, fosse
mais importante do que eu. Eu amei as pessoas mais do que amei a mim mesma.
Vivia quebrando a cara, jogando os cantos e com medo de ser decepcionada mais
uma vez. Crescer dói, machuca e fere. Tu não tem mais com quem se proteger, não
tem mais anda pra te abraçar. Tu aprende a viver sozinha consigo mesma e com tuas dores porque, na realidade, ninguém se importa se tu se feriu. Ninguém
quer saber da tua dor. É tu sozinha no mundo contra várias pessoas que quase
nem sempre querem o teu bem. Tu tem que conviver com as decepções diárias. Tu
tens que aprender que a vida não é nada fácil, que terão tantos e tantos dias
de tristeza e que às vezes não vai ter ninguém lá pra te abraçar ou falar algo
bonito, pois as pessoas só se importam consigo mesmas, elas não querem saber o
que se passa realmente no teu coração, elas se preocupam com seus problemas,
não tem o mínimo tempo de lembrar que alguém sofre. E assim eu cresci,
chorando, sorrindo, caindo, me levantando. Cada dia de uma vez, às vezes
querendo desistir, outras vezes arrumando forças de lugares inimagináveis.
Algumas vezes lutando contra quem amava para me defender, outras me escondendo
na minha cama com medo de me decepcionar. Nós colecionamos momentos sombrios e
tristes e eles nós apavoram a cada noite que dormimos. Mas, apesar deles,
sorrimos por coisas bobas e pequenas que te fazem ver que ainda vale a pena
lutar. Pode ser uma criança com aquele sorriso ingênuo de que nada vai
machuca-la ou o amor que um cachorro pode ta dar quando tu estás triste. Eu
cresci tola e cega, mas cresci. Cresci apanhando e dando a cara tapa, tentando
o máximo fazer as coisas darem certo ao meu redor. Eu tenho ainda minha
criança. Aquela que acredita no amor, que sonha, que quer teu príncipe… Eu só
não a deixo transparecer. Na verdade, ela não aparece por medo. Ela sente medo
de quebrarem teu coração mais uma vez. Ela me fez forte se escondendo e hoje eu
mantenho uma fortaleza em mim. Meu sorriso sempre no rosto para que ninguém
queira ver minhas lágrimas. Ela sempre esteve comigo, lá no teu cantinho,
quietinha, implorando para que eu não a mostrasse para o mundo. Sempre com teus
anseios, com teu pequeno coração doce e ingênuo, com teu sonho eterno de ter um
amor verdadeiro, de ter alguém que cuidasse dela. Ela sempre habitará em mim,
mesmo que em segredo, sempre existirá dentro de mim aquela pequena e amável
criança. Ela sempre será o meu jeito preferido, o meu sonho mais doce, o meu
sorriso mais sincero. Eu sempre a terei dentro de mim. E sempre existirá
esperança pra que ela um dia volte. Mas quem vai saber, até eu tenho medo de
mostrar ela para o mundo. Até eu tenho medo de voltar a ser ela, mesmo que em
mim ainda exista o sonho de acreditar que tudo pode ser pra sempre. Mesmo que o
desejo ainda queira ser forte, eu me controlo, pois sei que não posso me deixar
levar, não posso me entregar, não mais. Não depois de tudo. Não vou sofrer por
querer. Vivi demais pra perceber que a criança que eu fui ficou no passado e
será carregada com segurança pra que ninguém a machuque mais. Eu não posso
mostra-la sabendo tudo que sei hoje em dia. É egoísta dizer que eu sofri
demais, porém é a verdade. Eu chorei muito e aprendi que ninguém merece minha
lágrima se não for de felicidade. Aqueles que me amam cuidam de mim e limpam-nas
até que eu sorria de novo. Eu aprendi que não devo me deixar levar, que as
vezes um “para sempre” quer dizer “até eu achar alguém melhor”. Aprendi que
ninguém vai querer saber o que eu sinto que eu devo guardar pra mim e não devo
demonstrar fraqueza. Conforme fui sendo machucada, fui aprendendo algumas
coisas que hoje eu tento o máximo seguir. Aprendi que não posso ser fraca
enquanto alguém estiver perto porque vai ser nessa hora que a pessoa vai me
enfraquecer mais. Eu me mantenho forte para não desabar. Eu me mantenho de pé,
mesmo que não existam mais motivos. Eu ainda continuo caminhando porque sei o
quanto lutei pra chegar até aqui. Podem até dizer que eu estou fazendo drama,
mas não, apenas eu sei tudo o que eu passei. Só eu sei o que eu enfrentei as
noites de dor querendo acabar com a minha vida, as horas implorando pra isso
tudo parar, as lágrimas que eu derramei tudo o que eu senti os vazios que me
atormentavam. Eu sei, doeu demais. Já não dói muito, só tenho algumas
cicatrizes que me perseguem. Tenho algumas marcas que ficarão comigo pra
sempre. Não deixarei elas me abalarem, mas terei elas comigo, gravadas no meu
coração, no meu peito, na minha memória. Cada segundo de dor, cada pessoa por
qual eu sofri foi um aprendizado, um aprendizado terrível, mas eu sei que eu
superei, eu sei que eu consegui me reerguer e recomeçar tudo. Hoje eu entendo
que nada será pra sempre, foi duro, mas eu consegui compreender. É difícil ver
algumas pessoas saindo da tua vida, mas isso sempre vai existir. Tudo um dia
passa. Hoje dói, amanhã tu nem lembra. Eu levarei comigo minhas marcas de
“guerra”, não me envergonho delas. Elas me mostram o quanto fui forte pra
suportar tudo que suportei. A vida é o teu teatro, não deixe se machucar por
pessoas pequenas. Viva intensamente cada segundo, pra que não se arrependa.
Seja forte todos os dias, pra que no final fale: Eu superei tudo isso, eu
consegui. Isso vai ser umas das coisas mais felizes que vai poder ter passado.
— “Não foi pra sempre, mas eu
aprendi.”
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